segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aventura em duas rodas - Matéria no Jornal O Popular de 16/07/2012


No dia em que o blog www.goianiaushuaia.blogspot.com completou 10.000 acessos, um breve relato de nossa viagem ao Fin del Mundo foi publicada no caderno Magazine de O Popular. A íntegra pode ser acessada no link  http://www.opopular.com.br/cmlink/o-popular/editorias/magazine/ . Para acessa cadastre-se grátis ou entre com o login do Facebook diretamente na página do jornal.

Turismo

Aventura em duas rodas

Trio de mototuristas goianos foi à Patagônia, em uma viagem de 25 dias e 15 mil quilômetros

Eduardo Lucas Vieira - Especial para O POPULAR
16 de julho de 2012 (segunda-feira)
D-F_WEB
Parada do trio de mototuristas na estrada, com as motos estampando a bandeira brasileira: aventura durou quase um mês e exigiu muito planejamento

Há uma infinidade de motociclistas que desfrutam em paz a liberdade proporcionada pelas motos, em um estilo de vida nitidamente crescente no País. A combinação destes veículos com o inegável prazer de viajar fez surgir a categoria dos mototuristas. Encontros semanais de motoclubes nas capitais e no interior do Brasil são o pretexto ideal para os aficionados passarem dias e horas curtindo o prazer de pilotar, ampliando cada vez mais as distâncias, rumo a desafiantes destinos.
Foi isso que eu, ao lado dos colegas motociclistas Edgar Uchôa Meireles, médico veterinário, e Joelson de Paula Faleiro, produtor rural, todos de Goiânia, fizemos no início deste ano, numa expedição motociclística rumo à cidade mais austral do planeta, Ushuaia, situada no extremo sul da província de Terra do Fogo, na Argentina – a menos de mil quilômetros da Antártida.
Objetivando percorrer 15 mil quilômetros em 25 dias, o grupo partiu de Goiânia na madrugada chuvosa do dia 2 de janeiro. Cumprindo o trajeto determinado, ingressamos no Paraguai já no segundo dia da expedição, pela fronteira em Foz do Iguaçu/Ciudad Del Este, experimentando o escaldante calor próximo aos 50ºC típico das terras guaranis nessa época do ano. Na verdade, a escolha da data da partida precisou ser estudada: no extremo sul do continente, o período compreendido entre dezembro e fevereiro é o que melhor combina menos chuva e menos frio – situações que agridem muito o exposto motociclista, que deve evitar o gelo e o excesso de água na pista.
Contratempos com a imigração e a “polícia camiñera”, tensões na movimentadíssima zona franca e panes nas motos em razão do calor marcaram os 330 quilômetros percorridos em terras paraguaias. Como compensação, a receptividade e a hospitalidade do povo paraguaio por onde quer que passávamos com as motos, decoradas com a bandeira brasileira.
A entrada na Argentina se deu pela cidade de Formosa, capital da província argentina de mesmo nome – uma região de matas e agricultura no norte do país. A partir dali, muitas províncias da Argentina foram percorridas até a conquista do objetivo, a cerca de 4 mil quilômetros dali. Na medida em que avançávamos, a temperatura foi baixando, oferecendo condições de pilotagem mais agradáveis. Pela frente, as cidades de Resistência, Reconquista, Santa Fé, Rosário e Neuquém, afastadas da Cordilheira dos Andes.
EMOÇÃO
No sexto dia da expedição, ingressamos na Patagônia, um momento de particular emoção, diante do esplendor daquela região reconhecida mundialmente pela singularidade de suas belezas. O ponto alto da viagem estava sendo vivido, e cidades lindíssimas foram visitadas, como Bariloche, El Bolsón e outras pelo trecho asfaltado da mítica Ruta 40, uma rodovia que é um símbolo muito reverenciado pelos argentinos.
Não contando com motos adequadas para trechos sem pavimento (duas Yamaha FZ6-S e uma Honda CB600 Hornet), fomos obrigado a seguir rumo ao litoral leste, onde viajamos sob fortes ventos laterais pela Ruta 3, às margens do Oceano Atlântico. Nas proximidades da cidade de Comodoro Rivadavia e Rio Gallegos, as águas do mar são geladas e a praia é de pedras do tamanho de ovos de galinha. Plenamente justificada, portanto, a busca, pelos argentinos, das praias brasileiras.
Seguimos em busca de outras maravilhas no oeste da Argentina, às margens da divisa com o Chile: a cidade de El Calafate e seu espetacular glaciar Perito Moreno mostraram que são inesgotáveis os destinos turísticos da Patagônia. Novas demonstrações no caminho rumo a El Chaltén, com confortáveis acomodações, por preços muito acessíveis.

Destino final: Ushuaia

16 de julho de 2012 (segunda-feira)
FOTOA_H_2C_A-B_WEB
Os amigos motociclistas chegam a Ushuaia, destino final da travessia: missão cumprida
Não satisfeitos com as quase duas semanas na estrada e os mais de 6 mil quilômetros longe de casa, buscamos chegar a Ushuaia. Antes, porém, do obrigatório ingresso no Chile pelo Paso da Integracion Nacional, seguimos até Punta Arenas, onde passamos duas noites para conhecer essa bela cidade às margens do Estreito de Magalhães, que conta com uma interessante zona livre de impostos. Trata-se de um destino tradicional de compras na Patagônia.
Em outro empolgante momento da expedição, realizamos a travessia do Estreito de Magalhães por balsa, em uma viagem de quase duas horas até a cidade de Porvenir, ainda no Chile. Do porto de desembarque em diante, um trecho de mais de 200 quilômetros por uma estrada sem pavimento, encoberta por rípio (cascalho graúdo misturado com terra). Uma via lenta e arriscada, mas que foi percorrida sem sustos. Realizados os trâmites da aduana, seguimos para a Ilha Grande da Terra do Fogo, a última província argentina, cuja capital é a tão festejada Ushuaia.
A Expedição Goiânia– Ushuaia chegou ao destino no 13º dia, com a reconfortante sensação de ter vencido o desafio. Quatro dias em Ushuaia e uma extensa lista de passeios: trem do Fin Del Mundo, o Parque Nacional Baia Lapataia, museus, o Farol do Beagle e o presídio do Fin Del Mundo estão entre os principais roteiros turísticos da cidade, que oferece boa e acessível estrutura de hospedagem e rica culinária, tendo como pratos principais a tradicional parrillada argentina, o centolla, o cordeiro fueguino, etc. A cidade também é destino de compras do tipo “free shop”.
O grupo também tinha compromissos com o cuidado pessoal e com a manutenção das motocicletas: problemas de saúde ou mecânicos causariam transtornos incalculáveis ao projeto. Além disso, alimentamos diariamente um site na internet com uma espécie de “diário de bordo”, que pode ser acessado no endereço http://www.goianiaushuaia. blogspot.com. Foi um importante canal de comunicação com amigos e familiares que diariamente enviavam mensagens de felicitações e motivação.
No retorno, percorremos 3 mil quilômetros pela Ruta 3, rumo a Buenos Aires. A pilotagem seguiu contumaz, mas cautelosa, cientes dos riscos que ainda nos acompanhavam. A saída da Argentina se deu por um ferry boat até o Uruguai, país que foi percorrido em um dia de viagem. O reingresso no Brasil foi feito pelo Chuí e, após três dias, que incluiu um passeio na praia gaúcha de Torres, finalmente chegamos em casa, em 26 de janeiro.
Planejamento, disciplina e camaradagem foram importantes ingredientes para o sucesso da execução do projeto. Ao longo do caminho, tivemos contato com diversos outros mototuristas brasileiros, americanos e europeus, cada um com suas motivações para ficar até mais de um ano de moto na estrada.


Eduardo Lucas Vieira é advogado